sábado, 28 de janeiro de 2012

SOS Angola - Os Dias da Ponte Aérea - Opinião

SOS Angola – Os Dias da Ponte Aérea, de Rita Garcia
Oficina do Livro

Entre Julho e Novembro de 1975, quase 200 mil portugueses interromperam abruptamente uma vida inteira passada em Angola e vieram para Portugal através de uma das maiores pontes aéreas de resgate de civis jamais implementadas. Aviões da TAP e de várias companhias estrangeiras voaram sem pausas entre Lisboa e África para trazer todos os que quisessem sair das cidades e dos confins de Angola antes da independência. O desespero dos últimos meses e o medo de morrer às mãos dos chamados movimentos de libertação levaram milhares de colonos a correr para os aeroportos à procura de um lugar nos aviões que partiam de Luanda e Nova Lisboa a toda a hora e sobrelotados, com pessoas a viajar em porões e casas de banho para aproveitar o espaço ao máximo. Comissários e assistentes de bordo trabalharam sem folgas nesses meses loucos, acompanhando homens, mulheres, crianças, famílias inteiras desamparadas e soldados à beira da morte. As tripulações, exaustas, nunca conseguiram esquecer esses dias, nem as mães que lhes pediam para ficarem com os filhos. Recuperando esse tempo de angústia e agitação, S.O.S. Angola é um livro dramático e profundamente enternecedor, que revela cada pormenor desta epopeia e evoca as tragédias pessoais de quem teve de sair de África sem nada em direcção a um país desconhecido que, ainda por cima, acabara de viver uma revolução. Para os passageiros da Ponte Aérea, o futuro não podia ser mais aterrador.

Posso afirmar, com toda a segurança, que este seria um dos livros que não compraria para mim. Iria olhar a capa, ler a sinopse, mas no fim não arriscaria levá-lo para casa.
Seria um erro. Um grandioso erro.
Este livro cativou-me desde os primeiros parágrafos.
Todos falamos dos retornados, todos temos amigos ou familiares que tiveram de fugir de Angola. Mas quantos de nós sabem, realmente, o que se passou? Quantos de nós sabem o que sofreram os portugueses nos últimos dias de transição? Poucos, arrisco dizer.
Falo por mim. Pouco conhecia desta temática a não ser que muitos tiveram de voltar à força, sem nada, e recomeçar tudo do zero.
O livro de Rita Garcia é um murro no estômago. Demonstra-nos, através de testemunhos, a vida em Angola. O antes, o depois e o durante a Ponte Aérea. Indica-nos os personagens, os heróis e os bandidos. Mas, infelizmente, não é apenas mais uma história que nos entretêm algumas horas. É a história verdadeira de milhares de portugueses que se viram sem nada, que se viram em risco de vida e que, graças a quem sempre lutou por eles, conseguiram fugir. Para melhor? Talvez…. Porque a oportunidade de viver em paz é sempre para melhor.
Os relatos são desconcertantes. Relatos de torturas, relatos de quem escapou por pouco à morte certa. Relatos de quem lutou por um lugar nos aviões.
E, como sempre. A política. Por muito que se agradeça aos países que ajudaram a estabelecer a Ponte Aérea, no meio está sempre política, como o demonstra as contrapartidas que os EUA quiseram.
Rita Garcia fez um trabalho excelente. A maneira como o livro foi escrito impede-nos de o pousar. Não cansa a vista nem a cabeça. Não enrola nem maça. Tem o interesse na medida certa.
Um livro que recomendo vivamente. Um ensinamento de história e de humanidade.

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